\SENSATIO
Fotos: Bruna Paiva
SOBRE SENSATIO
Sensatio (Sensação, em latim) é uma pesquisa com relevância educativa que se materializa sob a forma de "experiência imersiva" ou "instalação cênica" (coreográfica, performática, duracional, de jogo) e é desenvolvida junto a bebês de 3 a 36 meses e seus adultos acompanhantes. Tem como proposta a experimentação de outras formas de se relacionar consigo, com os outros, com o tempo expandido e com este pequeno “mundo comum” composto também por formas e forças de materialidades arranjadas no espaço. Neste sentido, busca desenvolver na prática novas propostas de exercício de escuta e de relação horizontal com a primeiríssima infância, evidenciando o protagonismo do bebê.
A pesquisa se fez com estudos introdutórios iniciados no campo cênico e das artes visuais a partir do ano de 2015, momento em que a artista e educadora Bruna Paiva se aproximou de tópicos como "materialidade" (como performer no trabalho "Dark Room" e "Móbile" de Juliana França), "corpo e relação" (como performer no trabalho "Cupinzeiro" dirigida por Vinicius Terra), "instalação" (como participante da formação "Instalações Efêmeras" de Luiz Hermano e "Fronteiras permeáveis" de Vera Hamburger). Tais experiências estiveram sempre atreladas à sua formação na área educativa voltada para o campo do corpo e linguagem (iniciada no mestrado em Educação), na experiência direta com bebês em sua atuação como educadora (iniciada em 2017 no Sesc Santos) e na interface com estudos teóricos na área do corpo, performance, presença e política junto à atividades acadêmicas conduzidas por membros do Laboratório Corpo e Arte da UNIFESP (Dra. Marina Guzzo, Dr. Conrado Federici, Dra. Flavia Libermann).
Diante deste percurso, pensamentos se organizaram em algumas "formas", como: Corpo-Sensação, Kairós com cores, Sala das Sensações, Cosmococas Sensoriais, Festa do Branco, Rolos e Limões, Amarelo, Sideral, Morfos e Na Pele o pó.
Nos desdobramentos mais da área cênica, o foco está na construção de um lugar onde o tempo dilata-se para abraçar o ritmo dos bebês e o silêncio/vazio prevalece como dispositivo fundamental para tornar “visível” as expressividades manifestadas pelos bebês que, por sua vez, são materiais para a composição dramatúrgica. Instruções precisas de silêncio e movimentos lentos, objetos cenográficos-performáticos, rituais dramatúrgicos e a qualificação da presença dos adultos na cena são alguns dos dispositivos utilizados para criar esta atmosfera relacional, estética e investigativa em todos os participantes.
Busca questionar o predomínio do imaginário adultocêntrico nas relações e tenta redefinir tais hierarquias, elegendo "o sentir" como veículo principal de linguagem, uma vez que é a forma comum de se relacionar com mundo à todas as pessoas vivas, independente de sua condição. Nesta perspectiva, nasce, na pesquisa Sensatio, a oportunidade de emergir situações desviantes nos modos como o corpo dos bebês é compreendido pelo adulto e no modo como o corpo dos adultos se posiciona nas relações com bebês. Logo, aquelas instruções de silêncio e deslocamento pelo plano baixo e em velocidade lenta - que, por sua vez, poderiam limitar os adultos - proporciona, curiosamente, a transformação de seus estados corporais: do estado conFORMAtivo para o estado perFORMAtivo.
Assim, Sensatio carrega em si dispositivos de caráter socioeducativo para que, através de novos posicionamentos na relação, bebês possam ser verdadeiramente compreendidos em sua potência sensória e adultos possam experimentar outros modos de estar presente no mundo e na relação com seu bebê.
Retrospectiva de algumas das edições experimentais realizadas no Sesc Avenida Paulista (Jul 2019) pela educadora Bruna Paiva.
Edição "Na pele, o pó" realizadas no Sesc Avenida Paulista (Out 2019) pela educadora Bruna Paiva.
PERCURSO DA PESQUISA SENSATIO
A pesquisa Sensatio se distribui em uma série de investigações em andamento nos eixos estéticos, éticos e políticos. Dentre os autores e artistas que se destacam enquanto inspiração temos: Byung Chul Han, Fernanda Eugênio (Modo Operativo AND), Erin Manning, Philip Ariés, Gabriela Tebet, Emmi Pikler, Gandhy Piorski, Michel Foucault, Hanna Arendt, Giorgio Agambem, Nicolas Bourriaud, Grada Kilomba, bell hooks, Silvio Gallo, Jorge Larrosa, Paulo Freire, Jacques Rancière, Dalija Acin Thelander, Irene Fernández (Creactura), Vera Hamburguer (Fronteiras Permeáveis), Helio Oiticica (Cosmococas, Penetráveis), Lygia Clark (Objetos relacionais, Estruturação do Self), entre outros.
Organiza-se de maneira espiralada, de maneira que conhecimentos teóricos e práticos nestes campos vão se aprofundando na medida que entra em confronto com as experiências vivenciadas nas experiências junto aos bebês e suas famílias, bem como da artista em sua experiência no mundo.
Vislumbrando ser entendida também como um "laboratório de desenvolvimento de experiência estético-relacional com a primeiríssima infância", há a intenção de se estudar as composições no instante e seus efeitos no campo ético-social e ainda, fortalecer os estudos a área da presença, atenção e resposta dos performers em cena. Ao mesmo tempo, mediante oportunidades que se abrirem, espera-se qualificar as estruturas de montagem (iluminação e trilha sonora) que estarão dialogando em conjunto com os performers no estabelecimento de "respostas" aos gestos construídos pelos bebês. Por fim, busca-se experimentar novos processos de registro da intervenção, para que as "Narrativas poético-pedagógicas" possam se tornar também um "objeto" capaz de selecionar com maior precisão os pontos importantes e alargar ainda mais a experiência vivenciada em presença, bem como apontar para a construção de observatório da primeiríssima infância.
Deste modo, espera-se que Sensatio possa apontar para a construção de um campo de investigação das "vozes" das infâncias, numa estrutura de observatório da primeiríssima infância instituído a partir de estratégias advindas do universo artístico, isto, pois, compreende que o corpo em atitude performativa possui um potencial para absorver o que outros corpos não expressam em palavras. De antemão, há indícios de que os estudos do imaginário (Bachelard, Jung) e talvez a fenomenologia de Goethe possam ser grandes aliados neste processo de compreensão daquilo que se expressa, mas, sobretudo, os estudos do Modo Operativo AND. Neste sentido, Sensatio tornar-se-ia um lugar para estudar as pulsões, fluxos e ritmos construída por cada grupo que vivencia a experiência em qualquer uma das formas propostas pela pesquisa Sensatio.
Registro dos fluxos de deslocamentos e ritmos em sessões distintas da edição "Amarelo"realizada no Sesc Avenida Paulista (Jul/2019) pela educadora Bruna Paiva.